quarta-feira, 9 de maio de 2012

Paixão pela música e exemplo de determinação


Sem dúvida, o Maestro João Carlos Martins é reconhecido como o maior pianista brasileiro de todos os tempos. Tendo como maior paixão a música clássica, tornou-se um dos maiores especialistas e intérpretes do compositor Bach. Por diversas fatalidades e o LER, doença que compromete a funcionalidade dos membros superiores, o maestro acreditou, por diversas vezes, que jamais voltaria a se dedicar à música. Mas sua força de vontade e adaptação às limitações, levou-o à construção do projeto A Música Venceu .
Tanta dedicação acarretou milhares de homenagens mundo afora e culminou em, nada menos, que o tema para o enredo da escola de samba Vai Vai, no carnaval de 2011. "Eu já recebi homenagens em diversos lugares do Brasil e do mundo, mas essa foi, sem dúvidas, uma das que mais me emocionou. Porque ele fala de um sonho, de quem se dedica à uma causa", explicou o maestro emocionado.
João se deparou com uma junção incrível de música: bateria de escola de samba e música clássica. "Tenho a humildade para reconhecer que a ideia partiu do maestro Isaac , em um projeto com a Mangueira", afirmou João, que, ao conhecer o projeto, imediatamente procurou a Vai-Vai a fim de engendrar projetos igualmente incríveis. A relação entre maestro e bateria, samba e a música clássica, fluiu tão bem, que as apresentações foram parar na Sala São Paulo. E se engana quem pensa que a parceria parou por aí. "Dia 25 de setembro de 2011, estiveram no Lincoln Center, em Nova York, para mostrar a influência dos ritmos africanos na música brasileira", contou João, que não poupa esforços para elogiar a qualidade da bateria da Vai-Vai.

Carreira:
Toda esta relação lírica tecida com o piano teve início aos 8 anos de idade, quando João Carlos Martins passou a estudar com o professor José Kliass. Ainda jovem, despertou a atenção de toda a crítica musical brasileira com suas performances, únicas pela intensidade com que eram interpretadas. 
Aos 18 anos foi o único escolhido no Festival Casals, entre candidatos das três Américas, a dar o Recital Prêmio em Washington. A apresentação bem-sucedida teve como conseqüência sua estréia no Carnegie Hall, de Nova York, patrocinada pela ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Eleonor Roosevelt.
Sua carreira teve como um dos pontos altos o fato de ter gravado a obra completa de Bach para teclado. A paixão de João Carlos Martins pela música originou o documentário franco-alemão ¨Martins Passion¨, vencedor de 4 Festivais Internacionais. 
Em setembro de 1982, o exigente jornal New York Times se referia a ele como um dos maiores pianistas da atualidade. Já a revista New York Magazine, juntamente com o Boston Globe, ressaltavam o talento de João Carlos Martins, colocando-o como o mais excitante intérprete de Bach a surgir depois do legendário Glenn Gould. 
João Carlos Martins viu-se por diversas vezes privado de seu contato com o piano, como quando teve um nervo rompido e perdeu os movimentos da mão direita em um acidente em um jogo de futebol em Nova York. Com vários tratamentos, recuperou parte dos movimentos da mão, mas com o correr dos anos desenvolveu a doença chamada Contratura de Dupuytren. Novamente teve que parar de tocar, e dessa vez acreditou seria para sempre. Vendeu todos seus pianos e tornou-se treinador de boxe, querendo estar o mais longe possível do que sua carreira significava como músico. Mas sua incontrolável paixão o fez retornar, e realizou grandes concertos, comprou novos instrumentos e tentou utilizar o movimento de suas mãos criando um estilo único de tocar e aproveitar ao máximo a beleza das peças clássicas. Utilizou-se da mão esquerda para suas peças e obteve extremo sucesso com esta atitude. Mas o pianista, que teve distonia nas mãos, doença que faz com que a pessoa não tenha controle sobre os movimentos, exigiu muito das mãos, e aqueles exercícios causaram a LER, lesão por esforço repetitivo, e a distonia piorou o quadro. A doença também provocava dores muito fortes e, mesmo assim, o maestro continuou levando o trabalho adiante durante algum tempo, até que sua dor foi flagrada por um microfone lapela e o fez parar de tocar.  Teve que abandonar o piano, canalizando para a regência sua paixão pela música. Durante 10 anos, a vida do maestro foi uma luta contra a doença, foi obrigado a abandonar a carreira de pianista,  mudou de rumo, mas não se entregou. 
João Carlos Martins esteve no café da manhã do Mais Você, nesta quarta-feira, 9 de maio, para falar sobre uma cirurgia  no cérebro para a colocação de um estimulador para reverter uma distonia muscular.  Sobre a iniciativa da operação, João Carlos declarou: "eu só fiz a cirurgia por causa de um amigo que viu um vídeo meu e disse que o meu braço esquerdo estava recuando e na hora de reger eu preciso do braço com movimentos grandes". Já com os movimentos da mão esquerda, o maestro falou da satisfação de poder tocar piano novamente. “Depois de 10 anos, vou poder encostar os dedos no teclado do piano". A cirurgia que permitiu que ele voltasse a tocar após 10 anos sem poder abrir a mão esquerda, foi realizada há 23 dias. Emocionado, ele concluiu : "Eu passei por momentos muito dramáticos, mas vou chegar novamente ao Carnegie Hall, com a mão esquerda, e vou mostrar que tudo é possível". 
Cheio de planos para o futuro, contou que tem atuado em vários projetos sociais com crianças da periferia. Um exemplo de coragem e determinação é o que nos dá o maestro. Este exemplo nos mostra que podemos ter a cada momento uma escolha, a escolha por ser feliz ou a escolha por cultivar emoções e sentimentos negativos que não o levarão a lugar nenhum. O que me faz lembrar de um poema de Carlos Drummond, que diz:
Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e, o mais importante...
Acreditar em você de novo.

Bravo maestro!



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