domingo, 27 de janeiro de 2013

Ser feliz ou ter razão?


Acredito que todos nós já vivemos, ou presenciamos em alguma ocasião, o que era para ser uma simples conversa, um encontro entre amigos, ou mesmo uma troca de ideia entre o casal, se transformar em uma "verdadeira batalha", bastando para isso, que houvesse divergência de opiniões.
Pessoas que dizem se amar perdem o controle defendendo suas ideias com "unhas e dentes", como se o outro fosse um inimigo... O bom senso nos diz que é bom evitar assuntos polêmicos como futebol, religião e política, em algumas situações de convívio social. Mas quando se trata de opiniões diferentes entre o casal, como proceder? Será que o amor realmente supera tudo?

Ao longo de nossas vidas vamos acumulando experiências e apreendendo tudo aquilo que irá formar as nossas opiniões e a forma como encaramos o mundo. E é claro, que levamos toda essa bagagem para os relacionamentos. Pensar que fomos criados em famílias com costumes, e talvez alguns valores diferentes, pode ajudar a respeitarmos o ponto de vista do outro. E diante das diferenças, só amor não basta para resolver os conflitos que houver. Tolerância e boa vontade são as palavras chave para resolver as questões.

Para ilustrar o assunto, cito a seguir, um episódio ocorrido na novela Lado a Lado, e apesar de não me considerar uma noveleira, confesso que assisto algumas novelas, se estas forem interessantes. Dizer que "a vida imita a arte" é pura verdade quanto às novelas, já que os enredos revelam a alma humana, suas virtudes e defeitos. E essa novela tem mostrado de forma despretenciosa, a vida, os dramas, os preconceitos e os costumes da sociedade no início do século XX, uma verdadeira aula de história.

Num capítulo desta semana, um episódio me chamou a atenção: Edgar, o marido de Laura, conversa com a mãe dele e explica para ela o motivo de ter se afastado da ex-esposa quando já estavam quase reatando o casamento, depois de estarem separados por 6 anos. Ele diz que ama a ex-esposa e a quer ao seu lado, mas se afastou dela por que as opiniões deles divergiram no momento em que ele a convidou para trabalhar como secretária dele e ela recusou sua proposta; apesar de expor seus motivos, indo depois, trabalhar como secretária de um senador.

Cada pessoa que viu esse capítulo interpretou de um jeito, e com certeza, se questionado, irá achar que tem "toda a razão". Mas não seriam apenas "pontos de vista" que podem variar de pessoa para pessoa sem que este seja o dono absoluto da verdade?

Vejam o fato exposto por ela, a esposa: Laura diz à Izabel que ama Edgar, quer voltar a viver com ele, mas quer trabalhar, o que na época (1903), era uma ousadia, pois eram poucas as mulheres que tinham a coragem de desafiar os costumes vigentes. E mesmo assim, só as mulheres sozinhas, pobres e sem condições financeiras o faziam. Quando muito elas "podiam" ser professoras, e a maioria das mulheres não eram encorajadas nem sequer a estudar, já que eram criadas para serem apenas "esposas". Mas Laura era uma mulher a frente do seu tempo, vinda de família rica, estudou, tem opiniões próprias e diferentes da mãe dela. Casa-se por amor e separa-se do marido, coisa incomum naquele século, ao descobrir que ele esconde uma filha ilegítima e mantém contato com a mãe da criança. Ela almeja não só a independência financeira, mas o direito de escolher entre ser dona de casa ou se realizar profissionalmente. Para ela, trabalhar com o ex-marido significa paternalismo e dependência, além de querer ser amada e respeitada como mulher e esposa.  

Ao conversar com a mãe, Edgar vê que existe um outro ângulo além da opinião dele, pois ela diz que compreende perfeitamente a posição da nora, talvez por ser mulher. Edgar cai em sí concluindo o quanto foi intolerante e duro com Laura, o que lhe custou o afastamento da amada.

Esta situação poderia ter acontecido com qualquer casal na vida real... Usei o exemplo para ilustrar a forma com que às vezes lidamos com divergências de opiniões. Ter razão pode ser apenas um dos lados da mesma moeda, já que as pessoas têm motivos para terem opiniões diferentes em determinadas questões. Na maioria das vezes essa "razão/opinião" vêm das experiências vividas por elas e da interpretação pessoal dos fatos.

Ao se separar de Edgar, Laura sofreu discriminação por parte da sociedade, que não aceitava o divórcio, foi rejeitada pela família e teve que viver com seus próprios recursos. Depois de tudo o que sofreu, trabalhar e ser independente se tornou para ela uma questão de liberdade de escolha e acima de tudo, de recobrar a autoestima.

As pessoas são diferentes, algumas têm uma oponião flexível, e mudam conforme novos dados se apresentam (racionais). Para alguns, isso significa ser "Maria vai com as outras" mas, para outros, pode ser apenas um sinal de inteligência. Eu concordo com a segunda opção. Outros têm "verdades absolutas" tão arraigadas, que nem provas físicas esfregadas em seu nariz são capazes de mudar (fanáticos). Mas se perguntarmos a uma terceira pessoa, algumas vezes iremos descobrir uma outra opinião diferente, o que não significa que seja a "verdade absoluta".
Muitas discussões tem como início opiniões contrárias, até sobre um cápítulo da novela... Bobagens que poderiam ser contornadas se houvesse respeito pela opinião do outro. E isso, é fundamental numa relação.

E para concluir, faço minhas as palavras de Martha Medeiros:

"Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido."
Amar é muito mais do que uma simples palavra, é se colocar no lugar do outro e procurar entender as suas "razões". Eu te amo não diz tudo, é preciso escolher entre querer ser feliz ou querer ter sempre razão...
 





 

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