terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Crônica do amor e da vida real

Certamente os livros de autoajuda não venderiam tanto se todos os relacionamentos fossem perfeitos. Alguns diriam até que não existiriam músicas boas, já são os relacionamentos e seus conflitos são o tema preferido, e portanto, responsáveis pela maioria das canções.

Seria tão bom que fosse fácil, que houvesse, antes da química, um certificado de garantia afirmando que seríamos felizes, e que iria durar para sempre...como nos contos infantis.
Dizem que amar se aprende amando, mas não podemos afirmar que da "próxima vez" saberemos escolher a "pessoa certa". Aquela com quem gostaríamos de viver o resto das nossas vidas. Para ser mais realista, é bom dizer que "contos de fadas" não existem, mas desistir de encontrar alguém que nos faça tremer só de pensar nele é outra história. Alguém que nos entenda e nos aceite como somos, que nos faça melhores do que somos.
E enquanto isso não acontece, vamos tentando acertar, procurando aprender com os possíveis erros, "nossos" e do "outro", e acreditando que amar ainda vale a pena.

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Mas não funciona assim. Porém, sem dúvida, amar continua sendo a maior aventura e o maior desafio da espécie humana!


Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

(Arnaldo Jabor)

 




 

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