sexta-feira, 24 de maio de 2013

Olhe as coisas de um modo diferente


Foram anos vendo aquela paisagem. Para mim era deslumbrante, enquanto para os demais, não passava de algo comum. Da janela da sala na qual eu trabalhava, eu podia ver o Corcovado, já que a minha mesa ficava de frente para ele. Lembro-me perfeitamente da sensação de bem-estar e alegria que eu sentia todos os dias ao vê-lo. Inúmeras foram as vezes em que comentei essa impressão com os meus colegas de trabalho, mas eu tinha a sensação de que eles não conseguiam ver ou sentir o que eu sentia. Para mim, era como se eu o visse sempre pela primeira vez... Rodeado pela floresta, tinha algo de fascinante... Às vezes, encoberto pelas nuvens, em outras, a chuva dava-lhe um ar diferente, mas não menos bonito. Quando o sol brilhava, ele reluzia no alto daquela montanha, e eu até podia me imaginar lá, aos seus pés.

Mesmo se tratando de um dos mais belos cartões-postais da cidade, ele também passa desapercebido para a grande maioria dos que aqui habitam. Não os culpo por não ver. O campo visual da nossa rotina é como um vazio...  Aos poucos, quase sem perceber, vamos perdendo a percepção do mistério e do encantamento existentes no mundo. Vemos, sem enxergar. Quantas vezes passamos sem olhar para aquela flor que insiste em enfeitar o jardim por onde passamos, embora quase esbarremos nela todos os dias... Será que sabemos quem é o porteiro do prédio onde trabalhamos? o ascensorista? prestamos atenção nos detalhes por onde andamos? Talvez não...

Tudo que nos cerca, o que é familiar já não desperta curiosidade. A rotina cega, cria uma espécie de barreira que não permite a interação com o ambiente e as pessoas. Passamos a agir como robôs, às vezes até olhamos, mas não vemos. Podemos sair sempre pela mesma porta, mas se alguém nos perguntar o que vimos no caminho, não saberemos responder.
 
Talvez nos surpreendêssemos se olhássemos mais atentamente ao nosso redor. Há beleza por toda parte, só é preciso treinar o olhar para voltar a ver. Há tanto o que ver: gente, plantas, animais, e inúmeras coisas que insistimos em ignorar.




 "...De tanto ver, a gente banaliza o olhar", escreveu o jornalista Otto Lara Resende. "Vê, não vendo". Para ver, precisamos estar com aquele olhar curioso, como o da criança que vê o mundo pela primeira vez. Elas têm olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. 





 

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